segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Liberdade

“Ninguém é mais escravo do que aquele que se considera livre sem o ser.”
Johann Wolfgang von Goethe


Hoje falava com um amigo sobre liberdade, sobre ir e vir, e agora tava pensando que a liberdade exige muitas responsabilidades e, que, talvez, pra ser livre estamos de estar sempre meio presos a algumas coisas.
Estranho isso, mas vou falar um pouco do passado e, talvez as coisas se expliquem, ou não.
Houve uma época em que eu e um camarada íamos a festivais, onde pagávamos 3 pilas a entrada e nosso braço era carimbado, pra poder entrar e sair a qualquer hora. Nessa época, éramos os únicos otários que não eram livres. Nossos "amigos" punks eram livres, podiam fazer o que bem entendessem, iam e vinham,  e, porra, por quê não ser assim?
Nada de empregos, chefes, só álcool, mulheres e música.
Mas aí a liberdade acabava quando os caras tinham de pedir um ou dois reais pra poder entrar,ou tinham de pedir um ou dois reais pra poderem se manter "alto" por mais cinco minutos. E numa dessas, o cara mais livre de todos, puxa um celular e liga pra mãe pra que ela lhe leve dinheiro.
Foi o fim da era punk, foi o começo do fim dos festivais, foi o momento de abrir os olhos...
Me liguei que eu era livre, por quê era o babaca que tinha carro, o babaca que ia pra casa no final da noite, o babaca que ligava pra dar satisfação se não fosse voltar, era o cara da "liberdade vigiada".
E agora sou livre, vendo as coisas de um aspecto que soa capitalista e idiota, mas não é, sou livre. Por quê tenho escolhas, mesmo que dentro de um certo limite. Um mendigo tem escolhas, tem liberdade dentro dos limites que sua vida permite. As vezes eu invejo o mendigo, sei lá, talvez ele me inveje (provavelmente não) de vez em quando. Quem nunca quis estar no lugar de outra pessoa? Talvez só pra ver "qualé", só pra sentir o "barato".
Tenho a liberdade de fechar os olhos e me transportar pra qualquer lugar onde minha mente maluca quiser ir, tenho a liberdade de provar cada gosto novo que tive curiosidade de experimentar. Tenho liberdade pra viver minhas excentricidades, meu gosto pelas boas bebidas, pelos bons aromas, pelos bons temperos.
Livre pra me deixar cair na grama e olhar o céu, respirar fundo e sentir o ar encher o pulmão, sinto isso de maneira plena, sem nada pra amortecer meus sentidos, ou alterar minha consciência.
Sou livre pra me sentir artista, quando tiro das máquinas seu tom mais grave, quando abuso, uso, acerto, afino sua respiração como um maestro, que controla os sopros descontrolados e os torna uma sinfonia de instrumentos soprados 5, 7, 12 mil vezes por minuto.
E pra tudo isso, tenho que estar preso á realidade, aos compromissos, aos horários... as vezes acho que é um preço justo, que os benefícios valem mais que os sacrifícios.
Além disso, ainda me resta a liberdade de jogar tudo para o alto, chegar ao fundo do poço, ir lá, conhecer e voltar, pois aprendi enquanto estou preso, á realidade, que o esforço pra se manter em pé é que me traz as recompensas, as verdadeiras recompensas e que, pra voltar a ser livre, mesmo que meio preso, basta dar apenas um passo...
Agora, será que é possível ser livre no fundo do poço? Talvez. Mas acredite, já estive lá, e o limite para a liberdade, lá em baixo, é muito pequeno e não vale a pena.

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