segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Sorrir...

Ando precisando de meus amigos, de rir mais e de fechar menos a cara.
Sou simpático com a caixa do mercado e ela me retribui com um sorriso
e com votos de boa semana.
Agradeço a moça que me serve uma bebida e acho graça enquanto jogo
sinuca, e perco, pra variar.
No fim da noite volto pra casa correndo, como sempre, desta vez com um
desafiante, desacelero nos pontos certos e o deixo passar, e começo a
perseguição, tento manter o risco controlado, a adrenalina agita o corpo
acelera as reações e leva embora o sono.
Mas a casa está vazia, e a chuva não ajuda a acabar com o vazio.
Tento ser engraçado, um pouco, mas já não tenho a mesma graça, não
consigo ter a mesma graça, sei que é uma fase, que está se prolongando e
prolongando. As pessoas dizem que estou sozinho por quê quero, é, talvez
seja isso mesmo, eu digo que não.
Tenho conhecido pessoas muito legais, onde quer que eu vá, sempre foi
assim, só as coisas ainda não aconteceram.
Um dia eu chego lá...

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

E no rádio tocou uma canção...

You Were Meant For Me
Jewel

I hear the clock, it's six a.m.
I feel so far from where I've been
Got my eggs and my pancakes too
Got my maple syrup, everything but you

Break the yolks, make a smiley face
I kinda like it in my brand new place
I wipe the spots off of the mirror
Don't leave the keys in the door
Never put wet towels on the floor anymore 'cause

Dreams last so long
Even after you're gone
I know you love me
And soon you will see
You were meant for me
And I was meant for you

Called my momma, she was out for a walk
Consoled a cup of coffee but it didn't wanna talk
Picked up a paper, it was more bad news
More hearts being broken or people being used

Put on my coat in the pouring rain
Saw a movie it just wasn't the same
'Cause it was happy and I was sad
It made me miss you oh so bad

Dreams last so long
Even after you're gone
I know you love me
And soon you will see
You were meant for me
And I was meant for you

Go about my business, I'm doing fine
Besides, what would I say if I had you on the line
Same old story, not much to say
Hearts are broken every day

Brush my teeth and put the cap back on
I know you hate it when I leave the light on
I pick a book up
Turn the sheets down
Take a deep breath and a good look around

Put on my pj's and hop into bed
I'm half alive but I feel mostly dead
I try and tell myself it'll be all right
I just shouldn't think anymore tonight

Hoje estava pensando a respeito da vida e de como as coisas acontecem ou aconteceram. Frio do caramba, tirei o gelo do parabrisa do carro, liguei o ar e aguardei, esperei o gelo derreter, os ônibus saírem e, quando peguei a estrada, essa música. É a faixa do cd mais triste que á comprei até hoje e que devo ter escutado umas três vezes, quatro, contando com esse momento. Sinais, sinais, falava neles hoje á tarde. Acho que... não sei, melhor não achar nada, é tarde e vou dormir...

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Na beira da estrada.

O cego e o amigo Gedeão
Moacyr Scliar

— Este que passou agora foi um Volkswagen 1962, não é, amigo Gedeão?

— Não, Cego. Foi um Simca Tufão.

— Um Simca Tufão? … Ah, sim, é verdade. Um Simca potente. E muito econômico. Conheço o Simca Tufão de longe. Conheço qualquer carro pelo barulho da máquina.
Este que passou agora não foi um Ford?

— Não, Cego. Foi um caminhão Mercedinho.

— Um caminhão Mercedinho! Quem diria! Faz tempo que não passa por aqui um caminhão Mercedinho. Grande caminhão. Forte. Estável nas curvas. Conheço o Mercedinho de longe… Conheço qualquer carro. Sabe há quanto tempo sento à beira desta estrada ouvindo os motores, amigo Gedeão? Doze anos, amigo Gedeão. Doze anos.
É um bocado de tempo, não é, amigo Gedeão? Deu para aprender muita coisa. A respeito de carros, digo. Este que passou não foi um Gordini Teimoso?

— Não, Cego. Foi uma lambreta.

— Uma lambreta… Enganam a gente, estas lambretas. Principalmente quando eles deixam a descarga aberta.
Mas como eu ia dizendo, se há coisa que eu sei fazer é reconhecer automóvel pelo barulho do motor. Também, não é para menos: anos e anos ouvindo!
Esta habilidade de muito me valeu, em certa ocasião… Este que passou não foi um Mercedinho?

— Não, Cego. Foi o ônibus.

— Eu sabia: nunca passam dois Mercedinhos seguidos. Disse só pra chatear. Mas onde é que eu estava? Ah, sim.
Minha habilidade já me foi útil. Quer que eu conte, amigo Gedeão? Pois então conto. Ajuda a matar o tempo, não é? Assim o dia termina mais ligeiro. Gosto mais da noite: é fresquinha, nesta época. Mas como eu ia dizendo: há uns anos atrás mataram um homem a uns dois quilômetros daqui. Um fazendeiro muito rico. Mataram com quinze balaços. Este que passou não foi um Galaxie?

— Não. Foi um Volkswagen 1964.

— Ah, um Volkswagen… Bom carro. Muito econômico. E a caixa de mudanças muito boa. Mas, então, mataram o fazendeiro. Não ouviu falar? Foi um caso muito rumoroso. Quinze balaços! E levaram todo o dinheiro do fazendeiro. Eu, que naquela época j á costumava ficar sentado aqui à beira da estrada, ouvi falar no crime, que tinha sido cometido num domingo. Na sexta-feira, o rádio dizia que a polícia nem sabia por onde começar. Este que passou não foi um Candango?

— Não, Cego, não foi um Candango.

— Eu estava certo que era um Candango… Como eu ia contando: na sexta, nem sabiam por onde começar.
Eu ficava sentado aqui, nesta mesma cadeira, pensando, pensando… A gente pensa muito. De modos que fui formando um raciocínio. E achei que devia ajudar a polícia. Pedi ao meu vizinho para avisar ao delegado que eu tinha uma comunicação a fazer. Mas este agora foi um Candango!

— Não, Cego. Foi um Gordini Teimoso.

— Eu seria capaz de jurar que era um Candango. O delegado demorou a falar comigo. De certo pensou: “Um cego? O que pode ter visto um cego?” Estas bobagens, sabe como é, amigo Gedeão. Mesmo assim, apareceu, porque estavam tão atrapalhados que iriam até falar com uma pedra. Veio o delegado e sentou bem aí onde estás, amigo Gedeão. Este agora foi o ônibus?

— Não, Cego. Foi uma camioneta Chevrolet Pavão.

— Boa, esta camioneta, antiga, mas boa. Onde é que eu estava? Ah, sim. Veio o delegado. Perguntei:
“Senhor delegado, a que horas foi cometido o crime?”

— “Mais ou menos às três da tarde, Cego” — respondeu ele. “Então” — disse eu. — “O senhor terá de procurar um Oldsmobile 1927. Este carro tem a surdina furada.
Uma vela de ignição funciona mal. Na frente, viajava um homem muito gordo. Atrás, tenho certeza, mas iam talvez duas ou três pessoas.” O delegado estava assombrado. “Como sabe de tudo isto, amigo?” — era só o que ele perguntava. Este que passou não foi um DKW?

— Não, Cego. Foi um Volkswagen.

— Sim. O delegado estava assombrado. “Como sabe de tudo isto?” — “Ora, delegado” — respondi.
— “Há anos que sento aqui à beira da estrada ouvindo automóveis passar. Conheço qualquer carro. Sem mais: quando o motor está mal, quando há muito peso na frente, quando há gente no banco de trás. Este carro passou para lá às quinze para as três; e voltou para a cidade às três e quinze.” — “Como é que tu sabias das horas?” — perguntou o delegado. — “Ora, delegado”— respondi. — “Se há coisa que eu sei — além de reconhecer os carros pelo barulho do motor — é calcular as horas pela altura do sol.” Mesmo duvidando, o delegado foi… Passou um Aero Willys?

— Não, Cego. Foi um Chevrolet.

— O delegado acabou achando o Oldsmobile 1927 com toda a turma dentro. Ficaram tão assombrados que se entregaram sem resistir. O delegado recuperou todo o dinheiro do fazendeiro, e a família me deu uma boa bolada de gratificação. Este que passou foi um Toyota?

— Não, Cego. Foi um Ford 1956.

Li essa história agora á pouco, sim, é engraçada, também diferencio alguns carros pelo barulho, talvez até melhor que o cego, mas, as vezes acho que não sou capaz de diferenciar um alfinete de um elefante, burro que sou.